UM NOVO PAPEL
Por Afonso Farias Jr
Muito tempo
faz... Sentado na sala de casa, uma televisão, imagem em preto&branco. Assistia-se a um jogo.
Não era um jogo qualquer, era a seleção brasileira que se apresentava.
Dez
jogadores de linha e um goleiro no time principal. Conhecidos por suas
qualidades excepcionais, os jogadores de linha desfrutavam de enorme fama, mas
somente alguns – bem poucos – fizeram fortuna.
O goleiro
era maravilhoso, mas criticado à época. Pessoa esforçada, humilde e séria. Todos
sabiam do seu denodo, da sua competência e da sua vontade de vencer e
contribuir para as vitórias do escrete nacional.
Foram
vitoriosos ao final, venceram todas as contendas. Muitos foram endeusados e
outros praticamente olvidados. O goleiro parece que foi um desses. Romântico, amoroso e pessoa
divertida, todos gostavam dele. Nunca economizava gentileza e simpatia.
O arqueiro era natural de
Caratinga, em Minas Gerais, e defendeu Juventus, Portuguesa e Nacional, em São
Paulo, e o Fluminense, no Rio de Janeiro. Foi atuando pelo clube carioca que
ele acabou convocado para a seleção brasileira de futebol.
Em
especial, três jogos marcaram a atuação do atleta naquele julho de 1970: contra
os selecionados da Inglaterra, do Uruguai e da Itália. Ele fez a diferença
nesses embates. Quem duvidar pode assistir ao vídeo desses jogos.
Papel
(como era conhecido na intimidade) colaborou sobremaneira para a conquista do tricampeonato
canarinho no estádio Azteca, na Cidade do México, em 1970. Só aqueles que
viveram o momento sabem da importância da Taça Jules Rimet para o futebol do
Brasil.
Atleta
disciplinado e elegante sob as balizas, Félix recebeu outro
prêmio significante em 1970: o Belfort Duarte, que homenageava o jogador de
futebol profissional que passasse dez anos sem ser expulso, tendo jogado pelo
menos 200 partidas nacionais ou internacionais.
Como atleta,
Papel foi campeão do Estadual do Rio de 1969, 1971, 1973, 1975 e 1976, além do
Torneio Roberto Gomes Pedrosa em 1970.
Tempos depois, Félix
Miéli Venerando, para sustentar a família, trabalhou na loja Ponto Frio, no Rio
de Janeiro. Era mais um empregado com mechas brancas nas laterais da cabeça e
óculos pendurado no pescoço. Ninguém (ou quase ninguém) sabia quem era aquele
senhor.
Naqueles
dias, por acaso, souberam do novo emprego do atleta e tentaram fazer uma
matéria com o goalkeeper, mas a
reportagem foi negada pela chefia da
redação de um grande jornal de circulação nacional. No fundo, eles achavam que
aquele sujeito não estava com essa bola
toda, talvez pensassem que ele nem a merecia.
Esse
é o reconhecimento que recebem nossos ídolos, muitos deles atletas responsáveis
e que proporcionaram inúmeras alegrias ao povo brasileiro. São jogados ao léu,
afastados do convívio esportivo e depreciados no lugar comum.
Parte da amargura
de Félix foi compensada pela Lei Geral da
Copa/2012, cujo texto incluiu os benefícios aos campeões mundiais pela seleção,
de 1958 até 1970 no México. Depois disso, ele pode receber auxílio financeiro
para tratar da sua doença incurável: enfisema pulmonar, a qual o contratou, em
24 de agosto último, para atuar em novas plagas.
Bom
pai, marido, avô e atleta, hoje, Papel joga no Paraíso Futebol Clube, no Éden. Obrigado
pela alegria proporcionada e por ter feito milhões de brasileiros orgulhosos
naqueles dias (e até hoje) de 1970. Você não viveu em vão... Segue em tuas
defesas e também, se puderes, defende a
todos nós. Um abraço forte de seus admiradores, meu camarada.
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